Sete décadas passadas as “versões conflitantes” sobre a morte originam as polêmicas controvérsias reveladas em diálogo sobre a Semana Farroupilha
Setenta anos depois da morte do ex-presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas, o suicídio é questionado. A posição de “desconfiança” foi transmitida pelo historiador, Claudio Zorzi, no programa Marco Zero da Rádio Cidade FM. O professor de história e geografia discorda “da história” até hoje contada dando conta que Vargas teria cometido suicídio. A questão foi colocada no ar a propósito das comemorações alusivas à Semana Farroupilha.
Para Zorzi, o governo getulista teria ferido “alguns interesses” de adversários políticos que temiam até mesmo iminente golpe de estado. A história descrita não convence o historiador devido a diversidade de conteúdo. Prefere acreditar numa versão desconhecida sugerindo outros métodos adotados que culminaram com a morte. Não é possível fazer afirmações categóricas, “mas ilações sim”, compara. Vargas foi forçado a renunciar à presidência. “Suicidou-se” com um tiro de revólver calibre 32 no coração.
O professor lembra que existe uma nota manuscrita de suicídio, diferente da “Carta-testamento” de Getúlio Vargas. O documento, datado em 24 de agosto de 1954, endereçado ao povo brasileiro, possui três conhecidas cópias e existem muitas dúvidas sobre a autenticidade do texto datilografado. Estes fatos geram os ceticismos sustentados. Um seria a indução ao suicídio, outro a “terceirização” do disparo. “Jamais conheceremos a verdade”, admite.
Origens da semana
As insinuações sobre a morte de Getúlio Vargas foram reflexos originados pelo contexto da Revolução Farroupilha que, por sua vez, gerou a Semana Farroupilha. A comemoração tipicamente riograndense é promovida todos os anos no mês de setembro. No Rio Grande do Sul, a carência de infraestrutura em todas as áreas foi determinante para que o levante farroupilha contra o sistema eclodisse. Os revolucionários impuseram suas convicções conseguindo transformar a péssima realidade daquele período “em um ambiente melhor, mais saudável, próximo e adequado a cada cidadão gaúcho”, relata Zorzi.
Dois momentos
No caso do RS a Revolução Farroupilha, exemplo dos demais atos desta natureza com suas próprias designações, foi uma atitude de rebeldia contra o sistema imperialista português. O movimento de resistência acabou sendo implantado Brasil afora como a Balaiada, no Maranhão, e a Sabinada, na Bahia. Havia flagrantes discordâncias ao inconveniente modelo na época instalado, o que motivou os conflitos pelo país. Sem atendimento às reivindicações gaúchas no período revolucionário (20 de setembro de 1835 a 11 de setembro de 1836), a liderança do movimento proclamou a separação do Brasil “para iniciar nova etapa da revolta explodindo a Guerra dos Farrapos”, narra o historiador. Na condição de República, o RS passava a enfrentar o império brasileiro para consolidar seus princípios econômicos e sociais.
Maçonaria à frente
A Semana Farroupilha homenageia líderes da Revolução Farroupilha que durou de 1835 até 1845. Entre eles, Bento Gonçalves da Silva. Lembra a guerra dos Farrapos contra o império e evidencia a cultura, costumes e tradições gaúchas. A maçonaria, instituição da qual praticamente todos os líderes faziam parte, teve papel decisivo no processo que estabeleceu nova ordem político administrativa no Rio Grande do Sul, proporcionando uma vida de qualidade à população.
Apropriada
Zorzi considera que o Dia do Gaúcho deveria ser comemorado em 11 e não 20 de setembro. Justifica que foi em 11 de setembro de 1836 a data de proclamação da República Riograndense. Está em seu DNA inquirir porque a Semana Farroupilha é de 14 a 20 de setembro, excluindo o dia que julga ser um dos mais importantes da história. Em sua imaginação, o 11 de setembro, sendo reverenciado, “poderia despertar a ideia à novo levante pela transformação do território gaúcho em país”. Diante deste raciocínio o historiador entende que a Semana Farroupilha, hoje resumida a festas que poderiam servir de complemento, deveria ser um tempo de reverências e reflexão “sobre o que fomos, somos e o que queremos”. Porém, “influências externas procuram desfocar a essência e deturpar o evento pela influência do modismo contemporâneo”, lamenta Zorzi.
JC Linhares Assessoria & Comunicação

